Casa de Cultura Laura Alvim

A Casa de Cultura Laura Alvim sempre teve profissionais que se preocuparam em não deixar a história da casa morrer e principalmente não deixar que a finalidade da casa seja outra. Um desses profissionais é Lygia Marina, professora de português, que foi convidada, em 1985, por Ziraldo para trabalhar na fundação de artes. Trabalhou por vinte anos na Casa de Cultura Laura Alvim, saiu e voltou. Hoje, é a diretora da Casa de Cultura.

Lygia Marina falou, em uma conversa com a equipe da Fora da Estação, sobre as dificuldades do inicio e a continuidade do trabalho. “No inicio era um desafio novo, as idéias pulavam, corresponder e concretizar a paixão de Laura pelo teatro e, agora, manter o que foi implantado há anos atrás. O teatro hoje é complicado, antigamente as casas ficavam cheias, as peças se sustentavam por si só. Hoje, se não tem patrocínio, o espetáculo não acontece.” contou Lygia. A relação da Casa de Cultura Laura Alvim com os produtores é de parceria, os interessados se inscrevem na Fundação Nacional de Artes (Funarte) e a seleção das peças é feita pela superintendente de artes da casa.

Outro ponto de referência é a Cia Atores de Laura, criada em 1992, inicialmente fundada e dirigida por Daniel Herz e Susanna Kruger. A Cia. considera o ator como o elemento principal, o agregador e motivo maior da realização do seus espetáculos, o que se tornou a marca distintiva de seu modo de criação e de produção artística até hoje. Esse estilo de trabalho; o empenho, a vontade de sempre fazer o melhor, a atualização da linguagem das artes cênicas do teatro contemporâneo, a qualidade dos textos selecionados e a preocupação com a educação dos jovens e a formação de plateias, renderam aos Atores de Laura 19 prêmios de teatro.

Entre prêmios e indicações, quem se destaca é a atriz Susanna Kruger que ganhou o Prêmio MINC Troféu Mambembe de melhor atriz, em 1988, Prêmio Coca- Cola de Teatro Jovem, na categoria melhor direção, em 1996 e 1997. Recebeu cinco prêmios por sua atuação no filme Esconde- Esconde, entre eles o do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, e o mais recente,a indicação ao Prêmio Shell de Teatro 2008 na categoria melhor atriz, com a peça Casa de Laura.

Para conhecer um pouco mais sobre a importância da Casa Laura Alvim como patrimônio do Estado do Rio de Janeiro, os cariocas podem visitar o museu do pólo cultural. Informações sobre workshops, peças em cartaz, filmes em exibição e exposições, podem ser obtidas através do telefone 2332-2016 ou pelo site www.cultura.rj.gov.br.

Letícia Signorelli

A Casa de Cultura Laura Alvim foi inaugurada em 12 de maio de 1986. Doada ao Governo do Estado em 1983,através da Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj), seis meses antes da morte de Laura Alvim. Antes mesmo de ser transformada em centro cultural, a Casa já era ponto de encontro de artistas e gente de vanguarda como Tônia Carreiro, Fernanda Montenegro, Bibi Ferreira. Impedida pela família de seguir a carreira de atriz, Laura Alvim construiu palcos no palacete e os utilizava para promover encontros entre jovens artistas e intelectuais.

Hoje, a casa tem dois teatros, o Laura Alvim, com 245 lugares, e o Rogério Cardoso, com 70 lugares; três salas de cinema com excelente programação; galeria de artes, espaço basicamente destinado para artistas brasileiros, chamado Centro de Artes Ângelo Agostini; sala de aula para cursos de teatro, grafite, quadrinhos, entre outros; o museu que fez com que a história da família Alvim jamais fosse esquecida; e a livraria com muitas opções para viajar através da leitura.

Muitas peças já passaram pelos teatros Laura Alvim e Rogério Cardoso, mas teve uma peça em especial que marcou não só a diretora do palacete, mas também os espectadores: “O Interrogatório” , com a duração de 24h, direção de Eduardo Wotzik e dramaturgia de Peter Weiss. “A peça era sobre o julgamento dos Nazistas. Ela começou as seis da tarde, e terminou as seis da tarde do dia seguinte. Todos se emocionaram, todos da casa ficaram mobilizados para o espetáculo. Foi genial.” Relembrou Lygia. O publico adorou, teve quem realmente ficasse as 24h no espetáculo. Foi uma apresentação única, sem chances de ser reeditada. “Se isso acontecesse, iria perder o sentido.” afirmou a diretora.

Depois de muitos anos trabalhando com cultura, Lygia sabe da importância da formação do publico. “Eventualmente temos espetáculos para estudantes, tanto para escolas particulares quanto para pública, e funciona bem. A casa apóia a formação de plateia. Ela é frequentada por todas as idades, mas hoje, ainda a terceira idade é o maior publico”, revela.

Esta identificação da terceira idade com a casa não é de se estranhar, pois eles acompanharam toda a história. A casa tem 24 anos que passou para o governo, mas foi construída entre 1906 e 1910, por isso já passou por algumas reformas. “Fisicamente muita coisa foi modificada, porém sempre tentando deixar o estilo de Laura.”, disse Lygia. Laura não contratou nenhum arquiteto. As obras eram feitas pouco a pouco pelas pessoas que ela dava abrigo nos fundos do casarão, conforme julgavam necessárias para a realização do projeto. Um dos espaços reformados é a galeria de artes. “Ela sempre foi uma referência, ponto alto da casa. O espaço está impecável, virou point para a cultura da arte contemporânea.”comentou Lygia.

SONHANDO COM LAURA